“Recuperar a memória histórica submergida”

27 de Setembro de 2014 5:08pm
claudia
“Recuperar a memória histórica submergida”

Ángel Luis Cervera, bisneto do Almirante Pascual Cervera y Topete, rememora a rica história da sua família e da sua Casa-Museu, a que entesoura mais de 2.000 documentos relacionados com o Almirante.

Por que decidiu criar a Casa-Museu Almirante Cervera?

-A idéia de “criar um Museu” dentro da minha casa não foi espontânea, foi o resultado de ter conhecido durante toda uma vida as experiências militares dos meus antecessores. Viver como tantas lembranças no redor terminam por “te contagiar” e quer continuar o que outros têm iniciado... Há 24 anos, no tema da história da Guerra de Cuba, tento conhecer mais acerca das origens do que eu chamo “a memória submergida”, essa memória histórica da que tanto tem se falado, mas da que tão pouco se conhece.

Quando chegou a Cuba pela primeira vez?

-No ano 1991, como o propósito de preparar um documentário para televisão que contara a história da Guerra hispano-cubano-estadunidense de 1898. Naquele então, ainda não tinha-se cumprido o centenário do 98, e sozinho, sim ajuda de ninguém, chegue a Havana, onde meu único contato era o Dr. Eusebio Leal, Conservador da Cidade. Ele ficou assombrado, pois era a primeira vez que conhecia a um descendente do almirante e abriu-me as portas para que pudesse trabalhar sim problemas. E assim foi como, sim ajudas desde a Espanha, fiz um trabalho que obteve, messes depois, quatro prêmios internacionais e abriu-me o coração do povo cubano.

Nos anos a seguir outros Cervera animaram-se e foram lá, e no ano 2006 o fiz um grupo de 35 familiares... Foi como uma nova invasão a Ilha, mas esta vez pelos Cervera e de forma pacífica!

Quantos Cervera têm sido almirantes na Armada espanhola?

-A nossa família tem uma peculiaridade, e é que muitos conhecemo-nos há tempo e cada quatro anos fazemos reuniões em forma de “congresso familiar”. A última reuniu em Madri uns 464 membros da família, que se encontra disseminada pelo mundo e que é um autêntico recorde, pelo esforço que supõe a organização dum evento destas características.

Dos quase 1.700 Cervera conhecidos desde 1850 até hoje, 55 membros da família têm lúcido o uniforme como militares de formação, e deles, 12 têm sido almirantes.

 

Existe uma anedota curiosa: seu avo serviu com o seu bis-avo na guerra em Cuba...

-Sim. Quando o bis-avo ficava ao frente da Esquadra de Instrução, seu filho Ángel (o meu avo) servia como Tenente de Navio e Ajudante do seu pai. Depois, como o passo dos anos, chegaria ser almirante como o seu pai.

A experiência vivida no combate naval em 3 de julho –pai e filho- foi muito dolorosa porque mas de 350 marinhos espanhóis da sua Esquadra perderam a vida naquele triste dia, ainda que eles sobreviveram e puderam contar, mais adiante, o que com certeza aconteceu. Algo que a opinião publica espanhola de então não conhecia: as autênticas rações da perda dos últimos restos de império espanhol em América.

Você teve um guia excepcional em Santiago de Cuba, que tem mostrado para você, no mar, os buques afundados. Quem é a pessoa?

-Desde 1991, quando apareci pela primeira vez em Santiago, fiquei namorado da costa santiaguera, que é extraordinária e que tem uma riqueza não só coralina, para o desfrute turístico, mas também para a pesquisa histórica. A fortuna fez me encontrar, anos depois, com Vicente González Diaz quem, junto com outros amigos e historiadores cubanos, colaboramos numa série de projetos, como o que desenvolveu o arqueólogo aragonês que perseguia encontrar os restos dos marinhos espanhóis que foram enterrados nas praias de Santiago de Cuba em 1898.

No ano 2012 pode fazer realidade outro sono que tinha pendente: mergulhar na Esquadra de Cervera. Em companhia do meu filho menos e do meu irmão maior podemos submergir-nos a mais de 25 metros de profundidade e reconhecer os restos dos buques espanhóis. Podemos tocar a história com as nossas mãos, e isso para mim foi muito emocionante.

Quantas peças há na Casa-Museu?

-O mais importante não são as peças, mas os documentos. Os maços de papel do arquivo histórico do Almirante Cervera que superam os 2.000. Através deles pode se conhecer melhor o que o Almirante achava e escrevia. Eles todos revelam anedotas e historias sobre o povo cubano de então, que agora vem se com a perspectiva de 116 anos de diferença. Algumas destas são as que desejo compartir com o Grupo Excelencias durante este ano todo.

Que é você de formação?

-Eu sou economista e psicólogo, com um doutorado em Economia e outro em História, mas quanto mais conheço da história que liga a cubanos e espanhóis, mais sei o pouco que conheço dela… e a necessidade que sento de ajudar com a mina pequena contribua à história comum de ambos os povos que foram de mãos durante 437 anos, até 1898, data que marcou o começo da República de Cuba.

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