O Ave Fénix do Sloppy Joe’s

26 de Abril de 2018 11:57am
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O Ave Fénix do Sloppy Joe’s

Um bar habanero renomeado tem hoje sua segunda história, o Sloppy Joe’s Bar, frequentado dos anos 20 aos 50 do passado século sobretudo por artistas estadunidenses, com muito atrativo neste 2018.

Seu rejuvenescimento tem uma marcha recente, à que se somam viajantes de todo mundo, muitos europeus na lista, interessados por sua trajetória e tradição.

Este bar reabriu suas portas o 24 de abril de 2013, durante uma cerimónia na que tomaram parte autoridades, incluído o ministro cubano de Turismo, Manuel Marrero.

Localizado na rua Ánimas canto a Zulueta, a uma quadra do central Passeio do Prado (hoje de Martí), o Bar Sloppy tem uma história pouco comum.

Essa casa de bebidas abriu em 1917 e tem uma espécie de par em Tampa, Cayo Hueso (Estados Unidos), fundado na década dos anos 20, quando o crack económico, e cujo dono se nomeava Joe Rusell, íntimo amigo do escritor estadunidense Ernest Hemingway.

UM BAR ENTRE CHARCOS

Mas o Joe que gerou o bar de Havana veio de Espanha a Cuba em 1904, e seu nome verdadeiro era R. José Abeal. Ao chegar trabalhou como dependente por três anos num bar das ruas Galiano e Limpa, segundo reza num folheto publicitário da época.

Era um espanhol aventureiro, viajante em barco a New Orleans, Louisiana, após abandonar seu trabalho em Havana. Em Estados Unidos continuou laborando como barman seis anos e viveu em Miami.

Contam que em 1918 regressou à capital cubana e conseguiu trabalho como cantineiro no café Greasy Spoon (A Fonducha), e seis meses mais tarde decidiu montar seu próprio negócio.

Existe uma contradição, pois alguns documentos assinalam a abertura do Sloppy em 1917 e, no entanto, o folheto promocional conta a chegada de José a Cuba em 1918, um assunto de lendas.

A história continuou quando José, já convertido em Joe por sua estadia norte-americana, comprou um supermercado desmantelado no canto que ocuparia seu bar, mas resulta que o lugar era bem sujo, com encharques de água.

Joe operava o local como armazém e recebeu várias visitas de seus amigos do norte, eles o convenceram para colocar um bar e pelas características do lugar o nomearam Sloppy Joe (Joe O Sujo ou o encharcado). Ao ibério gostou aquele apodo e o usou.

O Sloppy Joe’s Bar de Havana tinha pouca cor local, sobre cujo auge comentam algumas testemunhas da época. Recordam o rico aroma do lugar, a limpeza do local, o cheiro a limão, a frescura.

A prateleira era enorme, num lugar para norte-americanos e com preços altos. Especializava-se em sándwiches ao custo de 2.50 pesos, muito elevados então.

Esses alimentos preparavam-se em longas flautas de pão com toda uma cerimónia, porque os dependentes o faziam com arte, colocando as lascas de presunto, o queijo, os pepinos em conserva e depois cortavam a cada porção, bastantes generosas.

Também rememoram que era um lugar muito coincidido pelos turistas norte-americanos, mas não de classe baixa. Os marinheiros procuravam bares de prostitutas, ruas mais abaixo. O Sloppy era muito limpo, a gente conversava animadamente e era um lugar amplo, com muitas mesas e cadeiras.

Quem sentavam-se à barra ficavam em frente à rua, para a qual podiam olhar por um cristal nevado, onde se tinha inscrito SLOPPY JOE’S BAR.

O lugar contava com duas entradas: uma por Zulueta e outra por Ánimas, com portas de madeira fina, torneadas, parecidas às dos salões ou tabernas dos filmes do Velho Oeste em Estados Unidos.

Seu signo distintivo era que nas colunas se encontravam as fotos com assinaturas de artistas famosos ou celebridades, em trânsito pelo lugar; por exemplo, a atriz Ava Gardner, o boxeador Joe Louis, o cantor Frank Sinatra, o ator Errol Flynn, e muitos outros.

Fernando G. Campoamor, jornalista e historiador do rum -já falecido- comentou a este jornalista que esse foi um bar de pouco desfrute para os verdadeiros bebedores de Havana.

Ele e seu amigo Ernest Hemingway compartilhavam a barra do Floridita, umas quadras mais adiante, na cale Bispo, também um dos mais renomeados, mas não o Sloppy. Considerou que Hemingway visitou o de Tampa, mas não o de Havana, pese à fama.

Alguns documentos e estatísticas dos anos 50, quando ao que parece eram os donos Rios e irmãos (sucessores de Joe), assinalam ao Sloppy como o das mais altas vendas da cidade, ainda que os mais coincididos seguiam sendo outros, como o próprio Floridita.

O Sloppy Joe’s de Havana chegou a ter fama em toda América, comparável com o Café Dom Pedro Chicote da Grande Via madrilena, segundo opiniões de críticos daqueles tempos.

Após 1959 manteve-se aberto, com seus ventiladores de teto girando, suas fotos e seu ambiente, mas foi fenecendo. Sustentou-se até o ano 1982 com mais ou menos o mesmo talante, de acordo com testemunhos.

Mais tarde perdeu os ventiladores de teto, substituídos pelos de pé; a barra continuava funcionando e servia-se cerveja a granel à moda do que popularmente os cubanos chamaram cervejaria pilotos, porque permaneciam bom tempo abertas.

Depois fechou-se e começou a perder seu brilho e suas peças antigas até ficar no esquecimento.

O auge do turismo nos mais recentes anos e a renovação de todo o ambiente de recreio da Havana provocaram a preocupação de recuperá-lo da empresa de turismo Habaguanex.

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