Álvaro Lorenzo, proprietário da adega "Alto de la Ballena", em Punta del Este, Uruguai

12 de Janeiro de 2010 3:32pm
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A tradição vinícola no Uruguai e suas origens, a produção atual de vinho e alguns dos segredos da produção são os temas tratados por nosso entrevistado nesta edição.

Como nasceu a adega?

Há cerca de dez anos, a minha mulher e eu decidimos abrir uma adega e escolhemos esta região que tem uma grande tradição vinícola ainda que não tenha muito desenvolvimento da atividade atualmente.

Compramos um terreno de 20 hectares e, de 2010 a 2002, plantamos as primeiras vinhas. Os solos são muito bons e tentamos produzir vinho de alta qualidade, mas em pouca quantidade. Esta zona é turística, com grande desenvolvimento imobiliário, e atrai um turismo de alta gama, de maneira que estamos bem posicionados e recebemos visitantes de diversos perfis.

Em 1870, depois da epidemia de filoxera, um inseto que arruinou os vinhedos europeus e do mundo em geral, Arriaque introduziu o Tannat, uma variedade francesa, no nordeste do Uruguai, em Salto. Francisco Vidiella trouxe uma variedade feuille noire perto de Montevidéu e posteriormente Piria plantou 200 hectares aqui. Foi a primeira etapa da vinicultura do Uruguai.

A segunda etapa começa com a emigração da Galiza e da Itália no início do século XX. Na década de 60 o Uruguai tinha aproximadamente 29.000 hectares de vinhedos, mas mudaram os hábitos de consumo e nos anos 80 havia apenas 11.000 hectares.

Aqui no departamento de Maldonado só ficaram dois vinhedos, pequenos e com uva de má qualidade.

Ao começar o processo de reconversão dos vinhedos uruguaios nos anos 80 e 90, em Maldonado não havia produtores. Então nós decidimos comprar um terreno com as condições apropriadas. Atualmente há alguns vinhedos na zona e até grandes projetos.

Quais as cepas existentes?

Temos Merlot, Tannat (que é a cepa emblemática do Uruguai, de origem francesa), Cabernet Franc (a segunda cepa de Bordeaux, que é combinada com o Merlot e com o Cabernet Sauvignon), Shiraz (uma variedade tinta do Ródano) e Viognier (uma variedade branca do Ródano que é combinada com o Shiraz em alguma denominação de origem). A nossa inovação é o Tannat Viognier.

O Tannat é uma variedade rústica, com muita cor e acidez, mas pobre em aroma e sabor. O Merlot é o contrário. Então os dois são utilizados para se complementarem, e às vezes com o Cabernet Franc, como fazem na região de origem, em Madiran, nos Pirineus franceses. Há duas denominações de origem do Tannat na França, que são Madiran e Irulegi, e nas duas a mistura mais comum é com o Cabernet Franc, mas no nosso caso não é nem com o Merlot nem com o Cabernet Franc.

Disseram-me que o Uruguai tem uma concessão única no mundo que permite chamar aos espumantes champanha e conhaque aos brandys. No entanto não há uma denominação de origem uruguaia para o conhaque ou para o brandy...

Não há. Como todos os produtores do Novo Mundo, o Uruguai não identifica seus vinhos com denominações de origem, controle de variedades ou produções, mas com a identidade de variedades ou de vinhos de diferentes características. Quanto a essa concessão que mencionou, ela existe e está ligada à história, a dívidas da França com o Uruguai. Eu sabia disso para o conhaque mas não para o champanha.

Bem, foi isso que nos explicaram...

No Novo Mundo também avança a tendência da identificação da região de origem dos vinhos porque é impossível separar o vinho da região em que é produzido devido às condições dos solos, do clima e daquilo que os franceses chamam de "terroir", ou seja, as práticas culturais e o trabalho do homem. As grandes empresas internacionais não podem ter um vinho de origem indefinida como acontece com bebidas destiladas ou com refrigerantes. Essas empresas compram adegas e mantêm o nome delas, a identificação e a origem geográfica.

Na América Latina em geral faltam os sommeliers. Como educam a população, os consumidores e os profissionais no Uruguai para o conhecimento e a melhora dos vinhos?

Isso acontece menos aqui porque há diversas gerações de sommeliers formados em escolas locais muito boas. Há cursos na universidade pública e em dois centros privados. Além disso há clubes que promovem a cultura do vinho.

Quantas garrafas vende o senhor?

Nas últimas duas colheitas - 2008 e 2009 - produzimos 30 mil garrafas por ano. São pequenas produções dos primeiros vinhedos de 2001 e 2002, mas a nossa meta são 60 mil garrafas anuais de vinho de alta qualidade.

São vinhos jovens, de modo que a adega ainda não tem reservas...

Na Espanha a denominação de reserva tem um sentido muito estrito mas no Novo Mundo não é assim. Às vezes isso está ligado a uma intenção comercial. Os nossos vinhos de 9 meses (o Tannat Viognier) ou de um ano são vinhos com características de reserva e até pode ser que de grande reserva. Não podem estar no mercado antes dos dois anos. Esse é o critério.

Vão continuar utilizando rolhas ou as novas tampas?

Utilizamos rolhas sintéticas para o vinho branco e rosé, mas para o tinto utilizamos a rolha tradicional para não perder o som, a aventura...

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