Considerações de Juan José Hidalgo, presidente do Grupo Globalia, sobre a greve anunciada pela seção do SEPLA da Air Europa

19 de Setembro de 2011 12:30pm
Considerações de Juan José Hidalgo, presidente do Grupo Globalia, sobre a greve anunciada pela seção do SEPLA da Air Europa

Uma semana antes da greve indefinida convocada para todas as segundas e quintas-feiras a partir de 22 de setembro de 2011 pelo sindicato SEPLA, que representa os pilotos da Air Europa, Juan José Hidalgo, presidente do Grupo Globalia, concedeu uma entrevista exclusiva para a Caribbean News Digital na qual explica seus pontos de vista sobre o tema e sua visão geral sobre a indústria turística espanhola.

O que é que o senhor acha sobre a greve anunciada e sobre o apoio manifestado pela Associação de Linhas Aéreas à Air Europa?

-Tenho o apoio da ALA porque tenho a razão e porque a greve dos pilotos é um problema que afeta todas as companhias. Acho que as leis de greve, que são históricas, são para a defesa dos direitos dos trabalhadores e não um instrumento de extorsão de um pequeno grupo de privilegiados como os pilotos ou os controladores, que ganham uma fortuna e que com essas greves provocam grandes danos aos cidadãos e à economia do país. Acredito que deveríamos ter uma regulação específica para não sermos sempre reféns desse tipo de situações.

É a primeira vez que uma companhia aérea espanhola está disposta a aguentar uma greve de pilotos...

-Eu estou preparado para aguentar a greve o tempo que a SEPLA considerar necessário porque é uma greve injusta, seus argumentos são falsos e não estou disposto a dialogar. Digo e repito: esta empresa nunca externalizou horas de vôos e desde que estou na presidência da empresa em 1991, quando a recebi na falência, a Air Europa não parou de crescer, de contratar pilotos e de formá-los.

Além da externalização, que o senhor nega, as queixas do SEPLA estão ligadas ao descumprimento do convênio.  

-Eles são responsáveis por suas atuações e por tudo que estão dizendo. Eu estou respeitando totalmente o convênio que, como eles dizem, é um tesouro para eles e estou de acordo, ainda que tenha sido construído na base da coação e das ameaças de greve. Esse convênio é válido enquanto a empresa existir. Sem a empresa, espero que encontrem uma alternativa para voarem facilmente.

O senhor sente a coação?

-É como se houvesse duas direções na empresa, uma que cria empregos e garante o crescimento, e a do SEPLA, que parece ser mais importante.

O senhor tem o apoio do resto do Grupo nesse conflito com os pilotos?

-Eu estou muito agradecido aos colaboradores da Globalia pelo apoio. Eles sabem que se a situação piorar, todos vamos ser prejudicados. É muito injusto porque na Air Europa há cerca de 500 pilotos e apenas 50 ou 60 deles estão insatisfeitos, mas poderiam prejudicar aproximadamente 25.000 funcionários.

Vai pôr o assunto nas mãos dos advogados?

-Meus advogados não vão tomar decisões sem me consultarem. O que eu posso garantir é que não haverá mais diálogo entre a direção da Air Europa e o SEPLA. Eles vão defender os direitos de greve, o convênio e todos os direitos deles, e eu vou defender os da empresa através dos meus advogados.

A imagem da Air Europa poderia ser afetada por essa situação?

-Acho que não. A Air Europa tem uma imagem sólida porque e faz seu trabalho corretamente, é uma empresa inovadora, com aeronaves novas e muita credibilidade no mercado. Nesta ocasião vamos trabalhar com muita disciplina, cumprindo com os serviços mínimos que estabeleça o Ministério de Fomento, ou seja, vamos exigir aos pilotos que realizem os vôos estipulados pela lei e os vôos afetados pela greve serão retirados do nosso sistema de reservas.

Gostaria que nos falasse agora da situação do resto da empresa. Qual a avaliação do senhor dos resultados do primeiro semestre no contexto da crise econômica mundial?

-Este é um ano mau, semelhante a outros da crise, mas não é exatamente assim para outras empresas do Grupo como Halcón, Pepephone ou Travelplan. Alguns fatores como o preço do petróleo poderiam ser muito prejudiciais porque os clientes, esgotados, não poderiam pagar o preço dos bilhetes. Acho que neste ano não haverá companhias com grandes lucros. A Lufthansa, a Air France, a TAP e as companhias americanas estão muito afetadas, como todos nós.

Quanto ao meu grupo, a companhia aérea vai ser a mais prejudicada por quatro razões: a primeira é o preço do combustível, a segunda a conflitividade dos controladores que teve muitas repercussões em 2011 como atrasos, indenizações, entre outros problemas. A terceira é a das cinzas vulcânicas e a quarta são os custos das regulações de segurança impostas pelos governos e que são assumidos pelas companhias aéreas que já têm muitos incrementos nos custos devido às taxas. Trata-se de quatro problemas não discutíveis que não têm nada a ver com a gestão empresarial, mas que vão ter um efeito negativo nesse ano.


No entanto o crescimento continua no caso das agências de viagens, principalmente com as franquias.  Quais os resultados dessa política e quais as perspectivas?

-Vamos continuar com a mesma política. Agências de viagens dirigidas por empresários privados que defendam seus próprios interesses, querendo ganhar dinheiro, significa maior crescimento para o grupo e é uma política que vamos reforçar, apoiando com a nossa marca e produtos essas pessoas que queiram criar seu próprio negócio.

Quais as perspectivas da indústria para o final do ano e para 2012?

-Eu continuo afirmando que o turismo salvou bastante a situação econômica na Espanha. A situação no norte da África favoreceu os estabelecimentos espanhois nas Canárias, Baleares, Costa del Sol ou Levante. Foi favorável para os receptivos e para as estadias. No entanto, a situação foi diferente para o turismo emissivo e acho que isso não vai mudar em breve. Nós, por exemplo, tivemos que cancelar vôos para a Tunísia, Marrocos e Egito e eliminar destinos, de modo que temos menos movimentação para o exterior.

A crise financeira e econômica internacional esgota as economias, paralisa a construção e provoca a estagnação das grandes distribuidoras. O privilégio do nosso setor é que as pessoas continuam querendo viajar, mas pode chegar o momento em que elas decidam não continuar a investir no turismo e nesse caso poderíamos voltar aos anos 40 ou 50, mas espero que isso não aconteça.

O senhor começou sua carreira naqueles anos 40 e 50 transportando os emigrantes que voltavam da Suíça à Espanha. O que sente Pepe Hidalgo agora a respeito do que tem conseguido? O que considera que falta por conseguir?

-Eu me sinto muito satisfeito. Trabalhei até os 27 anos para levar dinheiro aos meus pais, experimentando muitas opções na minha terra e na Suíça. Depois comecei a percorrer meu próprio caminho e agora, com 70 anos, posso dizer que construí uma organização bem pensada que abrange toda a cadeia turística como transporte aéreo, hotéis, operação turística, agências de viagens, etc. Não posso dizer que tenha realizado todas as minhas aspirações, mas estou satisfeito e vou continuar fazendo coisas com minhas ações e pensamentos. Diante de qualquer oportunidade de negócio ou de crescimento não vou duvidar. Eu sou assim e não vou mudar.
 

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