Gay Nagle Myers, Editora Principal da Travel Weekly

Com uma boa parte da sua trajetória profissional dedicada ao mundo do jornalismo de viagens, principalmente ao Caribe, a editora principal da Travel Weekly tem muito a dizer sobre o turismo nesta parte do mundo. Pessoa simpática e original, mostra na conversa a mesma paixão que adivinhamos nas suas histórias. Sua elegância está muito ligada aos tecidos naturais e às cores caribenhas do seu vestuário, que complementa com brincos espetaculares feitos por ela com capas em miniatura da revista para a qual trabalha ou com elementos naturais. Falamos com a Gay na Conferência de Turismo Sustentável do Caribe, celebrada neste ano nas Bermudas.
A senhora tem trabalhado para a Travel Weekly nos últimos 26 anos, é assim?
É, mais tempo aí que o do hotéis sobre os quais escrevo que nem sequer estavam construídos quando comecei a trabalhar para a Travel Weekly.
Como começou a sua carreira?
Eu estudei na universidade do Texas onde me formei como jornalista. Sendo ainda estudante viajei para a Europa com alguns amigos. Eu não podia gastar mais de cinco dólares por dia. Quando voltei decidi que o que realmente queria fazer era viajar e escrever.
Ao terminar os estudos passei um período numa editora de Nova York, mas só queriam me preparar como secretária e não era isso que eu queria. Aí decidi ser comissária de bordo na Pan Am, que era a maior companhia aérea do mundo, mas na última entrevista me perguntaram o que eu faria caso alguém adoecesse durante um voo e eu respondi que caminharia no sentido oposto porque eu não sei o que fazer quando uma pessoa adoece. “Bem, nesse caso você não tem futuro na Pan Am”, disse a entrevistadora.
Eu tinha 22 anos e decidi procurar uma agência de empregos em Nova York, onde eu vivia. Quando me deparei com uma, eu disse para o responsável que eu queria viajar e escrever, e ele falou: “Como todas as garotas”, me indicando uma “revista comercial”. Eu nem sabia o que era uma “revista comercial”, mas aquela era a Travel Agent.
Eles me deram alguns textos para editar a fim de saberem se eu podia trabalhar como corretora. No primeiro ano fiquei trabalhando à noite na gráfica, sem viajar, como corretora.
Após a renúncia de um jornalista, eu fui ver o chefe para que me desse o emprego. Depois de pensar, ele me pediu que viajasse à Itália e escrevesse sobre a viagem. Eu não podia acreditar, mas viajei à Itália e escrevi a história. Viajei com 10 dólares e voltei com eles, mas aí estava meu trabalho como jornalista.
Sete anos depois a East West Network, de Los Angeles, convidou-me para fazer parte da equipe deles em Nova York, o que achei interessante.
Nessa época a senhora era jovem, queria se casar... como combinou isso com o trabalho?
Depois de dois anos na East West Network me casei e trabalhei para eles até ficar grávida e aí parei de trabalhar. Também redigia uma coluna na Travel & Leisure.
Trabalhou para algumas dessas revistas sob encomenda...
Trabalhei para oito delas, produzidas pela mesma empresa. A minha filha estava num programa depois das aulas e isso contribuiu para que pudesse trabalhar o dia todo. O pai dela ajudava, mas estava trabalhando.
O que é que a senhora fez primeiramente na Travel Weekly?
Comecei fazendo a cobertura de temas do Caribe, da Europa e dos Estados Unidos.
Como descreveria as diferentes etapas pelas que passou na publicação?
Na revista comecei na época das máquinas de escrever e já vi muitas mudanças, até na distribuição. Consegui me manter aprendendo sempre, e, apesar de alguns probleminhas com a tecnologia atual, estou conseguindo. Não há alternativa.
Sua relação com o Caribe?
Eu comecei a fazer a cobertura do Caribe quando comecei na Travel Weekly.
O que acha do Caribe atualmente? Qual a contribuição de eventos como esse para a região?
Eventos como esse mostram algumas ações que se realizam para mostrar o Caribe como região e não como ilhas isoladas, mas acho que falta espírito às apresentações.
Uma pessoa como você, americana, acha que é objetiva ao escrever sobre o Caribe?
Eu trato de ser objetiva e de praticar a crítica construtiva quando considero que algo está errado.
Acha que é seguro para os americanos as viagens ao México?
Completamente. Recentemente, o Tianguis abordou a percepção do crime no México. Eles querem mostrar que a situação não é generalizada.
Já pensou na aposentadoria?
Ainda não.
Caso decidisse, aonde iria?
Não sei. Tenho uma irmã que passou 42 anos como professora. Temos pensado fazê-lo juntas, mas ainda não sabemos para onde iríamos.
Algum conselho para os jornalistas mais jovens?
Acho que há uma nova geração de jornalistas que sabem como escrever além do “tweet”. Eu lhes aconselho muita leitura. Investigar sobre a pessoa e a empresa antes de uma entrevista. Não rejeitar uma viagem pensando que não é interessante. Sempre há uma oportunidade.
Qual a sua opinião da CTO nos últimos anos?
É desalentador ver organizações com líderes excepcionais, brigando o tempo todo. Isso é perder o tempo e há muita coisa para fazer. É triste para um jornalista fazer a cobertura de uma região onde isso acontece.
Sua opinião sobre Hugh Riley, secretário-geral da CTO, e sobre Jean Holder?
Hugh é o meu heroi. Em termos de ética tem padrões muito elevados e está sempre disponível para imprensa. Não tem medo das perguntas e responde sempre. Já Jean Holder esteve muito bem no início, mas acho que ficou muito tempo no cargo.
E Sylma Brown Bramble, a diretora comercial para as Américas?
É um trabalho muito difícil que ela está fazendo muito bem. De qualquer maneira não gostaria de estar no lugar dela.
O que deveria ser feito para a integração verdadeira do Caribe?
É uma pergunta bem difícil. As áreas divididas por idiomas no Caribe têm seus próprios eventos e exposições, mas argumentam que não têm dinheiro para os eventos da CTO.
A abertura de Cuba para o mercado americano parece iminente. Qual a repercussão que isso poderia provocar nas outras ilhas do Caribe que dependem desse mercado?
Acho que a preocupação de algumas ilhas é razoável porque os americanos, que são muito curiosos, querem ir ali e isso vai tirar uma boa parte do mercado delas, mas por outro lado há muitos americanos que não são aventureiros e vão continuar visitando os mesmos resorts a cada ano.