José Rubiera, chefe do Centro de Previsões do Instituto de Meteorologia de Cuba

17 de Novembro de 2008 7:33pm
godking

"Os ciclones tropicais não são apenas um fenômeno do mar do Caribe, mas de todos os mares tropicais do mundo. As condições propícias para sua ocorrência são o calor do mar (energia), a alta umidade da sua superfície e ventos fracos no sentido vertical." São as palavras autorizadas de José Rubiera, que conhece bem esses fenômenos de forte impacto no Caribe e que tem contribuído muito para a cultura meteorológica da população cubana.

Nos últimos anos temos verificado períodos de inverno e verão mais quentes associados às mudanças climáticas, já irreversíveis. O que é que nos pode dizer dos ciclones nesse contexto?

O número de ciclones tem aumentado em relação ao período 1970-1994, mas é semelhante se comparado com o período 1940-1960. Acontece que há períodos de maior ou menor atividade ciclônica no Atlântico Norte, onde se encontra o mar do Caribe, associados a mudanças de temperatura e salinidade. Esses períodos duram de 20 a 35 anos de acordo com as observações dos últimos 200 anos.

Ninguém pode predizer com muita antecedência o local e o momento exato da ocorrência de um furacão. Uma temporada pode ser ativa no Atlântico, mas não num país dessa região. O ano de 1995 foi o segundo mais ativo do século XX, com 19 tormentas com nome (a média é de 10), mas Cuba não foi atingida.

No entanto, na temporada de 1930 houve apenas 2 furacões, mas um deles destruiu Santo Domingo, na República Dominicana. Em 1992 ocorreram apenas 4 furacões, mas um deles foi o Andrews, que provocou vítimas e muitas perdas na Flórida. Como não é possível saber onde e quando vai ocorrer um furacão, então é preciso conhecê-los e acompanhar sua evolução, preparar a população, que é o que se faz em Cuba.

Turismo e Meteorologia, o que é que significa essa relação?

As previsões meteorológicas dão uma informação que bem aproveitada pelo turista pode fazer com que tenha uma melhor experiência de viagem. Um dia de chuva pode ser aproveitado para visitar os museus, enquanto nos dias de sol a praia é uma boa opção.

O ciclone tropical mais intenso, chamado de furacão no Atlântico e de tufão no Pacífico, é um poderoso sistema meteorológico que provoca fortes ventos e chuvas, e marulhos colossais, mas é possível sua previsão com bastante tempo de antecedência e isso permite a tomada de medidas efetivas de proteção, como acontece em Cuba.

Com um sistema de aviso constante em caso de furacões -, os locais de risco são evacuados e a população vai para abrigos. E as mesmas medidas são adotadas com os turistas que são transferidos para outros hotéis, às vezes de categoria superior, em zonas que não serão atingidas. O turista estrangeiro, como a população cubana, recebe muita informação.

O sucesso da proteção em Cuba baseia-se na integração do trabalho de previsão, da Defesa Civil, da mídia, do povo e da vontade política para evitar as vítimas.

O trabalho de educação nesse sentido não pode parar porque ainda há pessoas imprudentes que tentam atravessar um rio crescido ou saem durante a ocorrência dos ventos.

Qual a situação dos restantes países do Caribe? Tem alguma recomendação a fazer?

Os países do Caribe, da América Central, México, Canadá, Venezuela, Colômbia e os Estados Unidos estão representados no Comitê de Furacões da Organização Meteorológica Mundial (OMM) na região e nesse âmbito realizam-se inúmeras coordenações para a troca de informação meteorológica.

Eu recomendaria a união dos centros de previsão, da defesa civil e da mídia que, com conhecimento da situação, sem sensacionalismo, pode contribuir para a orientação da população nessas situações de perigo.

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