Manuel Aragonés, CEO do Grupo Travelider
A Travelider, conhecida operadora no mercado espanhol, aposta na longa distância em 2008 e deu passos decisivos nesse sentido entrando na Colômbia, no Brasil e propondo diversos programas no Caribe.
O Grupo se recupera a partir de novos capitais e acionistas. O que é que está acontecendo do ponto de vista financeiro?
A empresa matriz, o Grupo Travelider, mantém o capital original, mas para os investimentos no estrangeiro, principalmente na América Latina, fechamos um acordo com o Grupo Pestana para um investimento inicial de 66% na Lusanova Brasil que era, digamos assim, a filha da Lusanova Lisboa, e é assim que entramos no mercado brasileiro.
Por outro lado abrimos um escritório na Colômbia e em breve vamos abrir outro em Miami voltado para o mercado hispano-americano da Flórida.
A empresa está sediada na Espanha, com três marcas comerciais: Travelider, Destinos - para as viagens de luxo - e Vía Mar, para o turismo interno.
Em Portugal, além da Lusanova Lisboa, abrimos a Travel Portugal há um ano e meio. Esta vai ser a nossa terceira temporada.
Lusanova é a marca que vão utilizar para o Brasil?
Sim, ainda que a Lusanova Tours já existisse. Há sete anos está no Brasil. A gente entrou como acionistas de referência e ficamos com a administração geral da empresa. Vamos manter essa marca como bandeira no Brasil.
Como é que têm a administração da empresa com 66% das ações?
É que eu sou o administrador e somos os encarregados de informar os resultados aos acionistas, além de dirigir a gestão e os processos de ampliação e consolidação da marca no país.
Mas por trás disso há um grupo de entidades muito importantes... Quais são?
Exatamente. Os proprietários do Grupo Travelider na Espanha são seis grupos de gestão: Over, Star, Havantur, Edenia, Airmet e Unida, que reúnem 2.680 agências independentes na Espanha e cerca de 150 em Portugal. Esses grupos queriam ter uma operadora própria. Assim, a Travelider é uma marca que trabalha unicamente para essas agências, ou seja, não trabalha com o resto do mercado espanhol. O objetivo é oferecer um produto exclusivo às agências associadas ao Grupo.
Uma diferença em relação a outros grupos é que o senhor é acionista da companhia.
Sim. Na diretoria temos 22-23% do controle da companhia. Isso garante que as quatro pessoas que dirigem a empresa estejam envolvidas no que é a cooperativa, porque no fundo é isso, uma cooperativa. O número de acionistas dos grupos ou individuais somam mais de 500. Assim, na cooperativa formada por nossas agências de viagens temos uma diretoria interessada totalmente no projeto, na sua consolidação, no aumento da produção, etc., principalmente visando às agências de viagens.
Uma característica das operadoras do porte da sua é a gestão de aeronaves para pacotes específicos. Isso está nos planos da Travelider?
Desde o início o nosso objetivo foi dotar as nossas agências de viagens dos produtos que pudessem ser vendidos por elas. Começamos pela Europa. Agora temos um produto nacional bem estabelecido. Depois começamos a trabalhar com produtos de longa distância e com certeza no futuro teremos produtos charters, quer seja para as Canárias ou para o Caribe.
Você é responsável pela gestão na Europa. O que é que acha dos destinos emergentes do Mediterrâneo em relação ao mercado espanhol?
Os produtos de praia na antiga Iugoslávia e Turquia não concorrem com o produto espanhol. São países com certa instabilidade política e social contrariamente ao mercado espanhol, totalmente consolidado, com estabilidade social e de preços, e com serviços que lhe conferem uma liderança.
Por exemplo, muitos estrangeiros do Norte da Europa compram segundas residências na Espanha, mas nem pensar na Turquia, Bulgária ou na antiga Iugoslávia. Esses são países para férias, mas não para uma segunda residência.
Os espanhóis só fazem turismo fora da Espanha se for num mercado exótico com bom clima e preço. São poucos os que fazem turismo nas praias da Turquia, Iugoslávia ou no Mar Negro. O espanhol vai às Canárias ou fica na Península. Talvez a primeira concorrência do Caribe seja o próprio mercado interno espanhol.
O maior atrativo do Caribe são os preços. Como há muitos riscos, há sempre ofertas. Acho que o Caribe sempre vai ser o primeiro destino de praia depois do próprio país para os espanhóis.
O senhor fala do Caribe em geral. Acha que há uma procura espanhola por um Caribe diferente?
Destinos como a Jamaica provam que há boas possibilidades nas ilhas que não são de língua espanhola, mas não como destino de massas. Os espanhóis já viajaram muito para a República Dominicana e Cuba, e isso pode propiciar o interesse por outros países.
Acho que as operadoras poderiam pensar em outros destinos menos cobiçados pelo mercado alemão e inglês.
Nesse sentido poderíamos falar da entrada dos hoteleiros espanhóis no Caribe de língua inglesa e francesa?
Lógico. Isso influiria na chegada de mais turistas espanhóis.
O que é que acha da entrada de capital norte-americano nas operadoras espanholas como a Pullmantur e Iberojet? Isso era inédito.
Isso está ligado à globalização, da mesma forma em que as empresas espanholas estão investindo na América. O mercado espanhol é pouco atrativo para os grandes grupos de investimento internacionais porque é pequeno, mas ao mesmo tempo tem muita capacidade emissiva e isso atrai o olhar dos grandes.
Mais alguma coisa para os nossos leitores?
Quero dizer que a nossa aposta em 2008 vai ser a longa distância e a introdução de programas para o Caribe nas marca Travelider e Destino, a nossa marca de luxo. No segmento da longa distância queremos ser uma operadora de primeiro nível como já somos no mercado nacional espanhol.