O candidato do Sul na Unesco

13 de Fevereiro de 2013 12:10pm
O candidato do Sul na Unesco

O sr. Rachad Farah, embaixador do Djibouti em Paris, é candidato à Direção Geral da Unesco e considera que essa organisação pode desempenhar um papel chave na solução de conflitos e problemas que continuam afetando o crescimento e desenvolvimento dos países do Sul. É sobre esse tema que o sr. Farah conversou com o Grupo Excelencias.

A candidatura do senñor é pelo Djibouti ou é uma candidatura africana?

-É uma candidatura dos países do Sul. É africana, árabe, mas tambén de todos os países do Sul. A Unesco tem 198 países membros, entre eles o Gruopo dos 77 e grandes países como a China. É uma organização única que contribuiu par ao estabelecimento da paz, a tolerância e a reconcialição no mundo depois da Segunda Guerra Mundial, com o apoio de personalidades como Eisenhower e De Gaulle.

Mais que para a paz, a Unesco tem contribuido para a construção da União Europeia com a ajuda da sociedade civil, do mundo científico e universitário. Assim, a Organização tem trabalhado para a integração a partir do desenvolvimento da ciência e da cultura, para impor a escola de Jules Ferry.

Depois da queda do Muro de Berlim, a Unesco adoptou o crescimento e o desenvolvimento como motores da paz na Europa. A integração do continente europeu teve como alicerces a cultura da paz e o desenvolvimento, objetivos atingidos pela Europa mas que constituam sendo desafios para o Sul.

A falta de tolerância, as deslocações das populações, os refugiados são problemas do Sul, ainda que a ACNUR e a UNICEF apoiem, por exemplo, os 700 mil refugiados que se encontram em um campamento no Quênia.

É por isso que eu penso que o Sul tem que se apropriar da Unesco. Da mesma maneira que a Europa consiguiu sua reconstrução a partir da paz, o desenvolvimento sustentável vai de maõs dadas com o desenvolvimento científico.

Nehru dizia que a Unesco deve ser a consciência universal, de modo que temos que conseguir que se ponha ao serviço dos países do Sul e que facilete o diálogo mediante a cultura e a paz.

Por que é que deveria ser a Unesco e não a ONU a promotora da paz nos países do Sul?

-A Unesco tem uma estrutura democrática que representa uma boa oportunidade para o estabelecimento da paz. Talvez seja um mecanismo envelhecido e com pouca flexibilidade. Em 2015 a Unesco comemora seu 70º anivérsário, daí a necessidade de revisar esse mecanismo e interessar os jovens para que a Organização possa enfrentar os desafios do século XXI.

Considera-se o senhor o sucessor da obra do senegalês Amadou Mahtar Mbow, que foi diretor geral da Unesco?

-Lógico. Ele teve que lidar com alguns problemas resultantes da Guerra Fria. Eu daria continuidade à obra dele na época da globalização e de uma certa unipolaridade. Nesse contexto, o Sul precisa da Unesco como a Europa depois da Segunda Guerra Mundial e quando falo do Sul falo de uma maneira integral que passa pela União Africana e a CELAC.

Quais são as oportunidades de eleição do senhor em relação à diretora atual, cidadã búlgara, candidata à reeleição?

-A Bulgária é um país europeu dos Bálcãs que não tem as características dos nossos países do Sul. Eu acho que a recondução tácita  deve ser uma exceção em organizações tão importantes como a Unesco. Seria necessário que as mesmas coisas que exigimos aos governos fossem aplicadas nas organizações internacionais. A recondução tácita corresponde ao século XX, aos acordos políticos e aos acordos da Guerra Fria. Isso não pode ser automático num mundo em que prevalece o debate.

A Unesco foi a primeira organização que admitiu a Palestina como observador. Qual seria o tratamento que o senhor daria a essa questão tão delicada depois de eleito?

-Devemos agir para que a Palestina seja reconhecida como membro de direito pleno. Não pode ser de outra maneira.

O senhor é cidadão de uma região da África muito convulsa. Como poderia participar a Unesco na solução dos problemas dessa região?

-A Unesco deve construir a paz com ajuda da educação, da cultura e da ciência. Na África, na Ásia e na América Latina há muito para se fazer nesse sentido e a Unesco, pela sua vocação, pode ajudar muito. O exemplo da Europa é muuito interessante. A tragédia do genocídio dos Bálkãs foi superada graças à cultura da paz.

Há exemplos com finais felizes na África, como é o caso da Somália, onde a paz foi restabelecida depois de um referendo aceite por todas as partes, após os esforços do presidente do Djibouti, Ismaël Guelleh, e de outros líderes da região.

O conceito de cultura da paz está ligado à cultura da respopnsabilidade, dos direitos e dos deveres. Insisto no caso da Europa, onde depois do nazismo e do Holocausto, a reconciliação aconteceu no espaço de uma geração.

A Unesco teve o papel que lhe correspondia na Europa e agora tem que abrir a página dos países do Sul. Houve quatro diretores gerais europeus, com exceção de Amadou Mahtar Mbow. É a hora dos países do Sul se apropriarem da Unesco. Eu sou muçulmano moderado, africano e árabe. Estou convencido de que podemos superar o choque de civilizações.

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