Ricardo Alarcon de Quesada, presidente do parlamento cubano

01 de Julho de 2006 12:00am
godking

Ricardo Alarcon de Quesada, presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular de Cuba (Parlamento), é considerado uma das autoridades cubanas com maior conhecimento dos assuntos internacionais, além de ser um conceituado analista da política dos Estados Unidos em relação à ilha.

O que é que o senhor considera que pode acontecer nas próximas eleições estadunidenses?

A única coisa certa é que Bush não vai ganhar, porque não se pode apresentar como candidato.

Poderia conseguir o próximo governo dos Estados Unidos, como se esperava que acontecesse com Al Gore, que se tornassem mais flexíveis as barreiras ou que se eliminassem as restrições de modo que os cidadãos norte-americanos pudessem visitar Cuba?

Não sei, mas seria excelente. Não haveria restrições para os cidadãos de origem cubana e Cuba também não as colocaria. Seriam eliminadas as restrições para as viagens de cidadãos estadunidenses a Cuba e isso implicaria na abertura do comércio entre os dois países, porque caso contrário os empresários daquele país perderiam dinheiro. Em resumo, Washington teria que levantar o bloqueio econômico e comercial que impõe a Cuba.

De acordo com estudos realizados, há 10 milhões de cidadãos estadunidenses que de imediato passariam as férias em Cuba se pudessem viajar livremente.

Não sei se seriam 10 milhões de imediato, mas os cubanos que moram nos Estados Unidos, quase um milhão, com certeza que gostariam de viajar a Cuba.

Quais as vantagens da Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA) em relação à Associação de Livre Comércio para as Américas (ALCA)?

A principal diferença é que a ALCA é promovida pelos Estados Unidos com objetivos fundamentalmente econômicos, muito prejudiciais para os países menos desenvolvidos da América Latina e do Caribe. O estabelecimento da ALCA significaria que os empresários norte-americanos entrassem com seus produtos agropecuários e industriais no mercado desses países, arruinando as pequenas economias dessas nações.

Quanto à ALBA, trata-se de uma integração econômica e social que potencia o desenvolvimento das nações que se somem a esta associação.

Qual a importância dessas associações diante da União Européia?

Na verdade, o inimigo principal da ALBA são os Estados Unidos.

Cuba apoiou sempre o Caribe nesses anos todos de Revolução. Como se manifesta atualmente a cooperação cubana com esta região?

Desde os primeiros anos da Revolução, Cuba nunca se afastou do Caribe. Nossas relações com os países da região são excelentes. Antes da independência, Cuba e a Jamaica já mantinham relações. Depois do triunfo da Revolução, a Organização dos Estados Americanos (OEA), de acordo com a política hostil dos Estados Unidos, promoveu a interrupção das relações com Cuba. Porém, quando a Jamaica obteve sua independência e foi convidada para fazer parte da OEA, pôs como condição manter suas relações com Cuba, e assim fizeram depois a Guiana, Barbados e Trinidad e Tobago.

Atualmente a Operação Milagre tem propiciado que milhares de caribenhos e latino-americanos recuperem a visão através de operações oftalmológicas gratuitas realizadas por especialistas cubanos, mas não é apenas isso. Milhares de estudantes caribenhos têm estudado em Cuba através de bolsas de estudo. É freqüente encontrar pessoas no Caribe que falam perfeitamente o espanhol com sotaque cubano, o que significa que se formaram em Cuba.

Fidel Castro vai fazer 80 anos. O que é que se espera em Cuba depois disso?

Que faça 81... Imagino que a pergunta tem a ver com a sucessão de Fidel Castro. Bem, Cuba está preparada para isso e há milhares de cubanos que se preparam em tarefas de direção. Em média, a idade dos deputados é de menos de 45 anos, mas se leva em consideração que há pessoas como eu, com 70 anos, então podemos ver que há pessoas muito jovens.

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