Concepción Granados, proprietária do restaurante Doña Conchis, em Granada, Nicarágua
Muitas pessoas coincidem: o restaurante Doña Conchis é diferente, mágico, cósmico. O estabelecimento existe graças a uma espanhola que se estabeleceu no coração da cidade de Granada, na Nicarágua, de maneira também um pouco mágica, e ali deixou voar sua imaginação.
Como chegou a senhora aqui e como abriu o restaurante?
Tudo na vida é um pouco mágico. Eu tinha morado em diferentes continentes e em 1994 voltei à Espanha depois de 10 anos na Suécia e de ter viajado através da Índia, um país ao qual estou muito ligada desde 1985.
Morei mais três anos na Espanha, onde uma amiga me falou da Nicarágua, um país incrível onde tudo estava por fazer. Eu sentia que a minha vida devia mudar, que devia deixar coisas.
Viajei à Nicarágua durante quatro dias na Semana Santa, em abril de 1997, com essa amiga que comprara uma casa colonial aqui, e comprovei que havia muita coisa para fazer. Ao mesmo tempo sentia que pessoalmente era uma maneira de deixar algumas coisas para trás e fazer algo novo.
As pessoas aqui eram como na Espanha há 50 ou 60 anos e isso podia me enriquecer muito.
Na Espanha eu tinha uma vida, um bom emprego e um filho de 12 anos, mas sentia que era importante deixar coisas e dei muita coisa que eu tinha na minha casa, o que me deu uma sensação de grande liberdade. Assim, em 1997, peguei um avião com o meu filho e essa amiga que tinha uma casa na Nicarágua. Vim com duas malas, uma com roupa e outra com livros. Meu Deus, isso era a liberdade...!
Ela me dizia que devíamos abrir um restaurante porque eu tinha muita imaginação, tinha visto muita coisa e gostava das coisas diferentes. Assim abrimos o "Mediterrâneo", que foi o primeiro restaurante de estrangeiros em Granada. Anteriormente apenas havia um, o "Las Colinas del Sur", com peixe do lago.
Abrimos o restaurante entre as três sócias: a mãe dela que era a proprietária da casa, ela e eu, mas depois de um ano as circunstancias mudaram. Elas tinham outros projetos de vida e em 1999 eu decidi voltar à Espanha. Aí chegou um escritor dos Estados Unidos. Eu lhe contei que voltava à Espanha com o meu filho porque não tinha capital para investir, mas ele insistiu para que eu ficasse porque "eu tinha coisas para fazer aqui".
Um dia apareceu e me mostrou uma casa muito perto que era sua e me pediu que a utilizasse gratuitamente durante um ano. Eu não queria aceitar isso, mas tanta insistência só podia estar ligada a alguma coisa que eu devia fazer aqui.
Alguns dias depois veio para me reiterar que não devia pagar nada durante um ano e me deu um envelope. Ele me pediu para que eu aceitasse o que havia dentro que era um presente para que eu pudesse ficar na Nicarágua. O envelope continha 10 mil dólares. Ele me disse que o dinheiro era meu e eu vi naquele homem algo mágico, uma mensagem para que eu ficasse.
Assim, em maio de 1999, abri este restaurante. O meu filho estudou aqui. Aconteceram coisas incríveis. Cinco ou seis anos depois o senhor voltou a aparecer e me mostrou as chaves de outra casa que tinha aqui na Nicarágua e me pediu que abrisse outro restaurante. Eu não queria aceitar, mas ele voltou a insistir e assim nasceu o Café Nuit, um local de música latino ao vivo.
A especialidade deste restaurante são os "corações felizes" porque não é apenas a cozinha o que as pessoas lembram, mas a energia, a mágica e a espiritualidade que recebem a partir de elementos como fontes, velas, incenso... As pessoas escrevem o que sentem ou me contam diretamente no meu cantinho mágico. Eu lhes conto as minhas experiências e às vezes choram. Isto é mais do que um restaurante. É um santuário.
Vê-se logo que a senhora gosta da cozinha. Quais os produtos que utiliza?
Em geral são pratos que eu invento. Eu fecho os olhos e vejo as receitas a partir de temperos da cozinha tradicional espanhola como o alho, o salsa, o azeite de oliva, o açafrão.
No início eu passava muito tempo na cozinha, ensinando as moças nicaragüenses que são pessoas simples que às vezes não sabem nem ler e escrever. Eu contrato as pessoas por aquilo que elas me transmitem. Depois elas aprendem a utilizar os produtos e outras coisas.
Qual o segredo da sua paelha?
Não temos uma grande infra-estrutura nem grandes paelleiras, mas recebemos grandes grupos. Então preparamos a paelha individualmente em panelas individuais de cerâmica. Fazemos um refogado de alho e salsa com azeite de oliva, acrescentamos açafrão, tomate, os mariscos e vinho branco, e isso é misturado com o arroz já feito em panelinhas individuais de cerâmica.
E como prepara o molho cor de rosa à base de camarão e outros mariscos?
São molhos que inventei em algum momento da minha vida, misturando ingredientes que normalmente não fazem parte dessas receitas e que dão o toque diferente. Pode ser o orégão ou a alfavaca. É como o vinho branco na paelha.
Quantos pratos tem a Carta?
Temos 40 ou 50 pratos diferentes. Temos peixe, salmão, mariscos, carne, massas.
Quem decorou o restaurante?
Eu fiz tudo combinando materiais e elementos tradicionais da Nicarágua. Por exemplo, as lâmpadas são na realidade cestas para transportar flores.
Quantos clientes tem na alta temporada?
Na alta temporada, de novembro a abril, o restaurante sempre está cheio porque Granada é uma cidade turística e de 80 a 90% dos meus clientes são estrangeiros que visitam o lago, as ilhas, Masaya, o vulcão e vêm jantar à noite. A nossa capacidade é para 60 pessoas, mas podemos ter até 80 clientes.
Imagino que muitas personalidades tenham visitado o restaurante...
Muitas pessoas conhecidas e também desconhecidas que às vezes são as mais interessantes. Das conhecidas vieram José María Aznar, o presidente da Generalitat Valenciana, Luís Enrique Mejías Godoy, Carlos Mejías Godoy e muitos artistas e intelectuais.
Temos um certame de poesia no mês de fevereiro que atrai poetas e escritores do mundo todo.
Há alguns dias veio um médico de Bucareste, um cardiologista que está trabalhando num projeto infantil num bairro pobre da Nicarágua.
A Nicarágua atrai gente muito especial. Pessoas que trabalham em projetos sociais ou aventureiros que procuram um país para descobrir.