Google quer ligar a Cuba por uma boa razão

05 de Janeiro de 2017 12:09pm
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Google quer ligar a Cuba por uma boa razão

Entrevista com Brett Perlmutter, Chefe de Estratégia e Operações de Google para Cuba.

Faz tão só uns dias o mundo conhecia de um novo passo no degelo das relações entre Estados Unidos e Cuba, que começou faz dois anos quando os presidentes Barack Obama e Raúl Castro fizeram o histórico anúncio de restabelecer relações diplomáticas e traçar um novo caminho.

Nesta oportunidade tratava-se de Google, uma das muitas empresas norte-americanas que tinha mostrado interesse em comerciar com Cuba muito dantes do mencionado anúncio ocorrido o 17 de dezembro do 2014.

Google e ETECSA, a empresa estatal cubana de telecomunicações responsávelde prover serviço telefónico e de Internet na ilha, assinaram um acordo que garantirá ao povo cubano um acesso mais rápido aos serviços e conteúdos de Google.

“Este acordo é parte de um programa que temos com diferentes provedores de serviço de Internet em todo mundo”, disse Brett Perlmutter, Chefe de Estratégia e Operações de Google para Cuba, a Caribbean News Digital durante uma entrevista exclusiva em Havana. “Mas para nós, este acordo marcou uma meta importante porque se trata do primeiro acordo comercial de Google com Cuba. Até onde tenho conhecimento, se trata em realidade do primeiro acordo comercial sobre serviço de Internet entre uma companhia de tecnologia dos Estados Unidos e Cuba”.

Brett Perlmutter estudou na Universidade de Pensilvânia e especializou-se em dois ramos não muito afines: Economia e Literatura Latinoamericana, razão pela qual desfruta muito fazer parte desta conversa em espanhol, idioma no que exibe habilidades acima da média de um angloparlante que tenta se comunicar numa língua que não é a sua.

“O acordo”, continua dizendo o senhor Perlmutter, “está relacionado com um programa denominado Google Global Cache (GGC) e consiste propriamente na colocação de nossos servidores, dos servidores de Google, aqui em Cuba, num centro de dados de ETECSA”.

Os servidores, a instalar-se em Cuba em data próxima, alojarão parte dos conteúdos da nuvem de Google, concretamente de todas as plataformas, serviços e produtos da empresa. A necessidade de dar este passo, como explica o diretor de Google, foi clara e simple.

Até agora, qualquer usuárioem Cuba que, por exemplo, queria ver um vídeo em YouTube, tinha que esperar a que sua solicitação em Google chegasse ao centro de dados de ETECSA e viajasse através do cabo submarino ALBA-1 desde Cuba até Venezuela. Logo essa mesma solicitação tinha que viajar desde Venezuela, através de sistemas de cabos de terceiros, até um dos centros de dados de Google em alguma parte do mundo”, explica o senhor Perlmutter. “O vídeo solicitado descarregava-se então utilizando essa mesma rota de regresso até o usuário final em Cuba. O que o GGC garante é que os conteúdos mais importantes baixem direta desde a nuvem de Google, sem que medeie nada mais. De modo que dentro de muito pouco tempo, terá uma comunicação direta entre o centro de dados de ETECSA, onde estarão instalados os servidores de Google, e o usuário   final em Cuba”.

A implementação do programa GGC em Cuba permitirá ter acesso aos conteúdos de Google a uma velocidade até 10 vezes superior, permitindo ademais uma melhor utilização do largo de banda que empregam os usuáriosque em Cuba se ligam a Internet através dos pontos Wi-Fi. Também eliminará as demoras provocadas pela falta de memóriaintermediária na interface de vídeo (também conhecida como buffer) e que os lugares colapsem ou se “caiam”.

Segundo o alto executivo de Google, provavelmente a metade dos conteúdos aos que os cubanos acedem quando navegam por Internet provem/provêm de produtos e serviços de Google. Por tanto, a possibilidade de ter toda essa informação alojada nos servidores da companhia em solo cubano redundará num acesso mais rápido e de melhor qualidade a esses conteúdo.

YouTube, Google+, Gmail, Google Drive e o próprio buscador de Google, entre outros serviços e produtos, carregar-se mais rápido e fácil em Cuba uma vez que entre em marcha o programa GGC, o calendário de execução está em mãos da empresa cubana ETECSA.

Este primeiro acordo entre Google e ETECSA abre o caminho a outros acordos futuros entre as duas entidades, concretamente na assistência a Cuba para prover acesso à Internet desde as casas.

“Nós gostaríamos poder fazer isso. Nós temos posto todas as opções sobre a mesa e o que mais me faz sentir otimista é que todas essas opções continuam estando sobre a mesa. Nenhuma foi descartada. Estamos mantendo conversações e discutindo tudo com os cubanos”, diz Brett

“O bom que tem Cuba é que realmente quer se ligar à Internet. Este país tem a intenção real é ligar-se a Internet. Isso é algo que as autoridades cubanas nos propuseram, mas que ademais têm dito publicamente. ETECSA tem um plano e nosso objetivo é trabalharem conjunto com eles e ajudar a partir da vasta experiência que temos acumulado fazendo este mesmo trabalho em outras partes do mundo”, assegurou o jovem executivo de Google a Caribbean News Digital.

“Queremos fortalecer nossa relação e nossos nexos com Cuba. Existe uma vontade expressa, tanto de ETECSA como do governo cubano, de trabalhar com Google, e estou particularmente impressionado com o impulso dessa vontade”, continuou dizendo.

“Em Estados Unidos há muito sedentopelos bons conteúdos cubanos em Internet, e posso assegurar que são muitos. Você poderia me dar uma centena de razões do por que Cuba precisar estar ligada a Internet, mas para mim a mais importante de todas é o povo cubano, que é a sua vez a maior vantagem competitiva que tem este país. O povo cubano cria conteúdos, realiza estudos e investigações, faz inovações. Mas para poder capitalizar todo esse conteúdo como sociedade, há que ter acesso à tecnologia”, sentencia o Chefe de Estratégia e Operações de Google para Cuba.

O senhor Perlmutter, quem trabalha para Google por mais de quatro anos, interessou-se pelo tema da conectividade em Cuba desde sua chegada à empresa norte-americana, e começou a perguntar-se por que Cuba, um país que está a só 90 milhas de Estados Unidos, era tão inalcançável para o povo americano.

“Há um livro de Ciência da Computação dos anos 80 que diz: ‘nunca subestimes o largo de banda de um Volkswagen cheio de fitas de áudio que viaje por uma autopista’. Em Cuba, há largo de banda, mas o que acontece é que não está conectada. Mas ainda assim sempre soube que há um tremendo potencial aqui. E agora que conhecemos ao povo cubano, queremos que sejam usuários de Google igual que em qualquer parte do mundo. Se alguém o merece, é o povo de Cuba”.

Desde seus primeiros contatos em Cuba, Google compreendeu que o embargo norte-americano não só é contraproducente e obsoleto, sina que impedia em boa maneira as intenções da companhia de se abrir passo na ilha.

Dantes do histórico anúncio de dezembro do 2014, Google já tinha lançado, baixo a supervisão e consentimento do próprio Brett Perlmutter, três de seus produtos estrelas em Cuba: Google Chrome, Google Play e Google Analytics.

A partir da restauração de relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, Google viu-se numa posição de mordomia. O gigante de Mountain View, Califórnia, já tinha um trabalho feito em Cuba e estava a deixar seu impronta. Em seguida, é dedicado a fortalecer as relações que tinha forjado com o governo cubano, e agora chegavam as emendas e regulações presidenciais emitidas pela administração Obama, as quais permitiam a Google pela primeira vez oferecer produtos e serviços, desde sua própria nuvem, em Cuba.

No entanto, as leis do embargo norte-americano continuam socavando os esforços das empresas norte-americanas de manter relações comerciais normais com o pequeno país insular do sul, um enxame de disposições do que Google também não pode escapar.

Apesar do progresso da empresa em Cuba, muitos dos serviços e plataformas do Google, como Webmaster Tools, permanecem fora do alcancedos cubanos.

"Isto é basicamente porque o embargo em vigor, o que só pode levantar o Congresso dos EUA, nos obriga a passar por um grande processo de aprovações para cada um dos projetos que façamos em Cuba. Aqui em Cuba temos lançado aqueles produtos, serviços e plataformas que as leis norte-americanas nos autorizam a fazer ", admite Mr. Perlmutter.

Segundo o executivo de Google, a cada uma das mudanças regulatórias que Washington emite com respeito a sua política para Cuba é analisado com profundidade pelos advogados e assessores jurídicosda companhia, quem posteriormente orientam aos executivos sobre que pode ou não ser feito sem infringir as leis federais.

“Queremos que nossos usuáriosestão contentes, e eu sei por experiência pessoal, o frustrante e doloroso que é receber in erro 404 ou 403. Psicologicamente isso é uma experiência terrível. Devido ao embargo, eu não posso acessar a minha conta de correio de Google aqui desde Cuba”, afirma Perlmutter com assombro.

E depois está o fator bancário.  Apesar dos esforços em cursopor normalizar as relações bancárias entre os dois países, os serviços de Google que requerem de pagamentos, simplesmente não se podem lançar em Cuba porque não existe uma infraestrutura bancária para eles. Desafortunadamente, não há nada que Google ou outras empresas norte-americanas possam fazer ao respeito até que se normalizem as relações bancárias entre as duas nações vizinhas.

Um bom exemplo disso é a Consola de Desenvolvedores de Google Play, na que qualquer usuário pode subir seus próprios aplicativos para vender. Este processo entranha um pagamento de $25 dólares pela cada aplicativo que se suba, algo que não pode fazer nestes momentos desde solo cubano porque, como diz nosso entrevistado, “não podemos aceitar pagamentos desde Cuba”.

Já ao final da entrevista no luxuoso Hotel Saratoga da Habana Velha, uma última pergunta se impõe: se as coisas continuam marchando bem entre Estados Unidos e Cuba, se Donald Trump, quem assumirá a presidência da nação norte-americana o próximo 20 de janeiro, finalmente não reverte a nova política de aproximação para a ilha iniciada por seu antecessor na Casa Branca, ¿que projetos futuros tem Google em mente para Cuba?

“O bom que tem Cuba é que não há um país melhor situado telegeográficamente que este para se ligar a Internet com boa velocidade e qualidade, de maneira que ligar a Cuba a Internet, como deve ser, não entranha grandesdesafios tecnológicos”, “Pode-se empregar a rede de cabos submarinos que circunnavegan ao redor de Cuba, como o ARCOS-1, ao que poderíamos juntar a Cuba desde uma ponto de presença (POP) que temos localizado entre Boca Rato e Miami, no sul da Flórida. A esse POP também chegam os cabos europeus, de modo que Cuba teria uma conectividade total com o resto do mundo ou com boa parte dele. Isso poder-se-ia fazer em matéria de meses”.

Todas essas propostas futuras, incluindo outras com sistemas sem fio, estão sobre a mesa, e ETECSA continua valorizando a melhor opção ou uma combinação de várias opções. “Agora bem, há uma coisa que sim tenho bem clara: existe a vontade de parte do governo cubano de ligar ao povo de Cuba a Internet”, diz executivo do Google confiante.

“Estamosmuito orgulhosos de colaborar com ETECSA, que é uma equipa que trabalha muito duro. Fazem muito e todo o que têm feito é pelo bem da sociedade cubana. Nós gostamos de partilhar as nossas experiências aqui, as experiências que temos acumulado por todo mundo, e poder assim nos lançar a fazer projetos mais grandes e complexos aqui”, concluiu dizendo o senhor BrettPerlmutter, não sem dantes insistir uma vez mais em que “os bons conteúdos que Cuba cria são a razão fundamental para que a ilha esteja conectada à Internet.

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